Um gringo sob medida

Luciano Huck e o turismo sexual “do bem”.
Há uma grande confusão sobre a questão do turismo sexual no Brasil e no mundo. Frequentemente as pessoas costumam relacionar o turismo sexual não só à prostituição mas também à exploração sexual e, em especial, à exploração sexual de crianças e adolescentes, como se estivéssemos falando da mesma coisa.
Mas tu já paraste para pensar sobre o que realmente estamos falado quando nos referimos a ”turismo sexual“?
QUE TURISMO É ESSE?
Segundo a antropóloga Adriana Piscitelli, relacionar o turismo sexual diretamente à prostituição é uma maneira simplista de se referir ao tema, já que, embora as práticas se cruzem, o turismo sexual extrapola os limites da prostituição. Para a pesquisadora, “os viajantes à procura de sexo buscam por mulheres que façam programa mas também buscam por mulheres que não os façam. Não se trata apenas da troca de sexo por dinheiro. Há uma romantização, envolve jogo de conquista e, às vezes, pode mesmo envolver sentimentos”, disse Piscitelli em entrevista à Folha de São Paulo.
Piscitelli atenta também para o preconceito de classe. Em relação às mulheres, sempre se fala em prostituição. No entanto, em referência às mulheres da classe média, vale o mito do príncipe encantado caído do céu e enviado por deus.
Agora que já sabemos que turismo sexual e exploração sexual são coisas distintas, e que não necessariamente estamos nos referindo a relações prostitucionais quando falamos em turismo sexual, pergunto: faz algum sentido se posicionar contra (ou a favor) de turismo sexual? Numa definição clara e ampla, turismo sexual revela o fato de que pessoas muitas vezes fazem turismo em busca de – dentre outras coisas – sexo. Sim! Além de conhecer, trocar experiências, se maravilhar com as belezas locais, os turistas transam! E o que pode haver de tão surpreendente ou terrível nisso?
Quando pensamos “turismo sexual”, podemos estar nos referindo a um cruzeiro para swingers, de incursões a clubes de BDSM europeus ou mesmo de gringos querendo conhecer as baladas sertanejas famosinhas de Sampa. Quem sabe não estamos nos referindo a europeias em férias em ilhas paradisíacas, onde podem tudo longe dos maridos de meia idade – inclusive pagar por sexo com nativos. Quem sabe Vicky e Cristina degustando espanhóis em Barcelona? Ou a festa com que as gaúchas tem recebido os holandeses, neste lindo e prolongado Carnaval fora de época que tem sido a Copa do Mundo de 2014 em nosso país.
Turismo sexual é aquilo que acontece quando dois adultos conscientes decidem fazer sexo durante uma viagem. Podendo ou não envolver troca financeira.
Como poderíamos combater o turismo sexual? Exigiríamos dos turistas o confisco de seus genitais ao cruzar a fronteira? (Isso se considerarmos que sexo é algo que envolve apenas genitais – uma visão deveras pudica, convenhamos.)
O fato é que desde meados do ano passado, com a proximidade da Copa, o discurso contra o ‘criminoso turismo sexual’ se intensificou, numa confusão intencional com o (necessário) combate à pedofilia e exploração sexual infantil – confusão essa que contribui em muito para aumentar o estigma e violência contra trabalhadoras sexuais, vide as atrocidades cometidas pela polícia em Niterói e em várias outras localidades. De lá pra cá, era como se todos pudessem lucrar e aproveitar a Copa do Mundo – exceto as prostitutas.
O fato é que o aumento da demanda por serviços sexuais pagos em período de grandes eventos trata-se de um mito. A Copa do Mundo, em todos os países, é período de diversão, festa e muita pegação e sexo – sexo “civil”.
Mas e se não fosse um mito, que problema haveria nisso? Que mal poderia haver em prostitutas buscarem maior lucro com seu trabalho durante o período, como acontece todos os outros trabalhadores?
UM GRINGO SOB MEDIDA
No meio disso tudo, o apresentador Luciano Huck, em seu oportunismo aético, decide apoiar um certo tipo de turismo sexual “limpinho”, com toques de romantismo, um toque de ingenuidade forçada, e pitadas exageradas de machismo tosco, lançando através de seu Twitter e Facebook, o quadro “Namorada para Gringo”.
Mas será que, em pleno ano de 2014, as mulheres ainda estão loucas para encontrar seu príncipe encantado?
Quero acreditar que a grande maioria não tenha nenhum interesse na ideia – por outro lado, não duvido que muitas ainda sonhem com isso. Cada cabeça uma sentença, cada mulher uma escolha – sua escolha. Mas será que, a despeito da grave crise econômica que assola a Europa, Huck ainda acredita que seja bom para uma mulher carioca encontrar seu príncipe encantado europeu?
O grande risco da empreitada é o tal príncipe, falido e sem emprego em seu país de origem, case com uma brasileira em busca de novas oportunidades de vida e trabalho no Brasil.
O mundo mudou e o marido de Angélica não foi capaz de se dar conta. Por que não estou surpresa?
(Se você quer saber mais sobre turismo sexual e grandes eventos clique aqui e baixe Qual é o preço de um boato?, um produzido pela Global Alliance Against Trafficking in Women – GAATW)